Percival Muniz voltou. Depois de uma ausência de 32 anos Percival está novamente no PMDB, que agora trocou a sigla para MDB. O que teria acontecido com o repartidarizado e com o partido? Aparentemente, nada. Mas, o regresso em prazo hábil para candidatura (o ato aconteceu no dia 28 de março) cria a perspectiva de nome tarimbado em política poder entrar no cenário eleitoral. O que se esconde por trás dessa filiação? A resposta é: a transição do poder do MDB. O cacique Carlos Bezerra envelheceu. Aos 81 anos, enfrentando problemas de saúde, com os direitos políticos cassados pelo TRE e sem herdeiro político biológico, Bezerra deposita o amanhã de seu feudo partidário nas mãos de Percival.
A presidenciável Simone Tebet conversou com jornalistas na segunda-feira (23), na prefeitura de Cuiabá. Satélites de Bezerra estavam presentes em número superior ao dos jornalistas. Dois deles conversaram reservadamente comigo. Dessa conversa nasceu o capítulo ora postado da série. Tentei ouvir Percival, mas ele recusou minhas duas ligações.
Em resumo: Bezerra tenta reverter sua cassação, mas corre contra o relógio. Caso a mesma seja mantida Percival será seu nome à Câmara. Se tirar de letra a sentença do TRE, Bezerra lança Percival deputado estadual. Em qualquer dessas hipóteses o cacique jogará a chefia do MDB no colo de Percival.
Vejamos: Bezerra chefia o MDB desde tempos imemoriais, mas alcançado pela idade, o cacique entende que será preciso transferir o poder a alguém com capacidade de liderar o partido. Mais: não há alternativa lógica do ponto de vista de Bezerra, que não seja Percival, pois os outros nomes o apunhalariam.
Observem: A deputada estadual Janaína Riva – um dos destaques do partido é nora do senador Wellington Fagundes, dono do PL; o deputado federal Emanuel Pinheiro Neto é filho do xará prefeito de Cuiabá. Quer seja com Janaína ou com Emanuel Pinheiro Neto, o MDB estaria mais distante de Bezerra do que sua juventude.
A bancada mato-grossense do MDB na Câmara é do Baixo Clero e não há nomes para suceder o cacique. Teté Bezerra, mulher de Bezerra, não tem perfil de liderança e ora encontra-se ocupada na gestão da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar, que acaba de receber suplementação de R$ 30 milhões – generosidade do governador Mauro Mendes (União) com o aliado Bezerra.
RONDONÓPOLIS – Com domicílio e base eleitoral em Rondonópolis, o deputado estadual do Baixo Clero Thiago Silva pode ser a primeira vítima caso Percival concorra à Assembleia, mas em política não há criação de espaço – apenas a sucessão de quem o ocupa.
PERCIVAL – Vereador por Rondonópolis eleito pelo PMDB em 1982, Percival deu um salto e chegou à Câmara dos Deputados na legislatura constituinte de 1986, pela mesma sigla. Findo o mandato, com o partido em frangalhos, o deputado não tentou a reeleição. Quando constituinte Percival num curto período foi secretário de Estado no governo de Bezerra para abrir vaga ao suplente e correligionário Norberto Schwantes, na Câmara.
Em 1998, pelo PDT de Brizola, Percival elegeu-se vice-prefeito de Rondonópolis na chapa do peemedebista médico Alberto de Carvalho. Alberto foi defenestrado ao ser pego numa ligação feita por alguém que se fez passar pelo dono da empresa TCR (Transportes Coletivos Rondonópolis), que negociou com ele o pagamento de uma mesada semanal para garantir o monopólio das linhas urbanas de ônibus; essa negociata ganhou o nome de semanada. Percival articulou bem e a Câmara Municipal, como sempre coadjuvante dos poderosos, encostou o prefeito no muro: ou você renuncia ou cassamos seu mandato – Alberto aceitou a primeira opção.
Percival tomou posse na prefeitura. Precisava de apoio suprapartidário. Reuniu os políticos e assumiu compromisso solene: se apoiarem minha administração não serei candidato a prefeito em 2000. Wellington Fagundes (PL), deputado federal, de olho na prefeitura, caiu feito patinho – derramou emendas e canalizou recursos para o substituto de Alberto. Chegou o período das convenções Percival virou nos arreios, lançou seu nome e ganhou o pleito. Wellington engoliu em seco.
Danado esse Percival.
Dizem que a armação do telefonema que o fez prefeito foi dele e quem a teria executado seria seu amigo de infância Eustázio de Barros Filho. Ficou o dito pelo não dito e Rondonópolis ganhou uma figura política de peso.
A vida passou, Percival foi para o PPS e o presidiu regionalmente. Em 2002 articulou a candidatura vitoriosa de Blairo Maggi ao governo. Em 2006 e 2010 elegeu-se deputado estadual e em 2012 voltou à prefeitura, mas foi derrotado na tentativa de reeleição. No apagar das luzes do governo de Pedro Taques (PSDB), Taques articulou com o dono do PPS, Roberto Freire, e esse destituiu Percival de seu partido e o entregou ao então secretário de Estado Marco Marrafon. Deixemos de lado o histórico, pois o que conta agora é que o anônimo candidato a vereador em 1982 virou figura conhecida Mato Grosso afora.
Vereador anônimo? Isso mesmo. Bezerra seria candidato a prefeito de Rondonópolis em 1982 e precisava de um jovem pra arrastar a juventude. Conversando com o médico, ex-prefeito de Poxoréu e tio de Percival, Antônio dos Santos Muniz, que trabalhava na Santa Casa de Rondonópolis. Bezerra perguntou se ele sabia de alguém com um perfil assim. Dr. Muniz – assim que ele era chamado – não pensou duas vezes e disse: Percival – seu sobrinho que cursava biologia na UnB, em Brasília. Levaram Percival para Rondonópolis e no começo da campanha escreviam no muro: Bezerra e Muniz, pois ninguém sabia quem era o xará do homem que construiu a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
MDB – Com 30 prefeitos incluindo Emanuel Pinheiro e Kalil Baracat, de Várzea Grande; 10 vices; e 180 vereadores, o MDB tem boa presença na Câmara com os deputados Bezerra, Juarez Costa e Emanuel Pinheiro Neto, e o suplente Valtenir Pereira; no Senado com José Lacerda, segundo suplente de Carlos Fávaro (PSD); e na Assembleia com a campeã de votos Janaína Riva e seus colegas Dr. João José e Thiago Silva.
ELE – Percival dos Santos Muniz nasceu em Guiratinga no dia 11 de março de 1956. É agropecuarista. Casado com Ana Carla Borges Leal Muniz, que é filha do ex-prefeito de Rondonópolis e ex-deputado estadual Cândido Borges Leal Júnior, o Candinho. É sobrinho dos ex-prefeitos de Poxoréu, Antônio dos Santos Muniz e Herculano Muniz. Ana Carla é prima de Teté Bezerra, foi secretária de Estado de Educação e suplente de deputada estadual.
Percival foi denunciado vários vezes pelo Ministério Público, por improbidade administrativa. Percival já recebeu condenações e teve os direitos políticos cassados, mas a exemplo de tantos outros políticos mato-grossenses permanece em cena disputando eleições, exercendo mandatos.
INFOGRAFIA/ARTE – Marco Antônio Raimundo – Marcão
FOTOS:
1 – paginadoe.com
2 – Comitê da campanha de Percival em 2016
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